Qual é a primeira memória que vem na sua cabeça quando o assunto é comida? Um prato típico da região onde você nasceu? Um bolo quente, fofinho e super gostoso que a sua vó costumava fazer na infância? Você quase consegue sentir o cheiro dos ingredientes fresquinhos do seu restaurante preferido?

Esse gosto pela comida local deixou de se tornar apenas uma necessidade afetiva, mas uma preferência de consumo que fez o mercado se reinventar. O localismo é a preferência dos consumidores por marcas e negócios localizados geograficamente perto.

Segundo um estudo publicado pelo Think With Google, as pessoas costumam escolher produtos e serviços que se conectam diretamente com as suas necessidades e comportamentos específicos.

Para entender esse movimento, é necessário começar do começo olhando para as culturas alimentares. Uma cultura alimentar é a forma de expressão da identidade de povos intimamente à história. Cada grupo social estabelece os próprios códigos alimentares, criando tradições e inovações ao longo do seu desenvolvimento. 

Com a emergência climática e a crise econômica, diversas culturas alimentares estão sendo ameaçadas. 

Uma pesquisa recente realizada pelo Covitel, mostrou que no Brasil 45% das pessoas consumiam verduras e legumes cinco vezes por semana ou mais antes da pandemia, no 1º trimestre de 2022 esse número passou para 39,5% – uma queda de 12,5%. 

Para o Joio e o Trigo (publicação jornalistica independente e investigativa sobre saúde e alimentação), essas formulações substituem a experiência de ir pra cozinha e dar volta atrás é bastante complicado, porque:

• Os alimentos in natura se tornam inacessíveis tanto do ponto de vista de preço como de proximidade física. 
• O saber culinário se perde. 
• A experiência individual substitui o hábito de compartilhar refeições.

Comida ética, saudável e sustentável?

Nas últimas décadas, comer alimentos produzidos localmente tornou-se sinônimo de consumo ético, saudável e sustentável. Algumas pesquisas mostram que alimentos orgânicos ajudaram a melhorar a saúde dos consumidores, mas também beneficiam as agriculturas locais.

Uma pesquisa recente realizada na Universidade de Purdue, mostrou que quase dois terços dos americanos acreditam que comer comida local é melhor para o meio ambiente do que comer comida produzida de longe.

Os principais benefícios do acesso a mercados de agricultores locais está relacionado com:

— Aumentos no consumo de vegetais;

— Menos refeições em restaurantes;

— Menos consumo de alimentos processados;

— Menores taxas de obesidade e diabete.

No entanto, apenas consumidores de alta renda são beneficiadas por esse acesso. Com o avanço da fome no Brasil, são mais de 33 milhões de brasileiros que não sabem se vão ter uma próxima refeição.

“A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país.” 

Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede PENSSAN

Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).

Defender a comida local, é vestir a camisa das culturas alimentares e da saúde, mas sobretudo lutar pela garantia de alimentos de qualidade para as pessoas. No Brasil onde cada vez mais pessoas veem nos processados uma saída para manter os pratos meio cheios, é necessário ficar atento aos desmontes de políticas públicas e políticas de extermínio que estão levando cada vez mais agrotóxicos para a mesa dos brasileiros.